contos, pseudojornalismo

A Boa e “Velha” Mallu

Quando ela apareceu no cenário musical brasileiro, ainda com apenas quinze anos de idade, muita gente torceu o nariz e não acreditou que uma menina tão delicada e ingênua pudesse transformar esse mesmo cenário que há anos não apresentava nada de realmente novo. Não que suas melodias ou letras, embaladas com seu violão folk, fossem algo genuinamente novo. Mas perto da mesmice vista pós Nação Zumbi ou Los Hermanos, Mallu realmente possuía algum frescor. Um frescor que rapidamente se transformou em mito, já que qualquer menina de quinze anos com referências seiscentistas e que alcance o sucesso através da internet em um curto espaço de tempo, é vista com olhares no mínimo curiosos.

Mas os quinze anos se foram, ela lançou um segundo disco, ainda com as mesmas referências, além de um ocasional reggae, sempre muito bem vindo. Aquele furacão havia passado e naquele momento, Mallu Magalhães já não era apenas uma das dezenas de promessas que costumam pipocar todos os anos na cena musical brasileira.  Em paralelo ela começa a namorar o então hermano Marcelo Camelo, compositor respeitado e cultuado no universo indie e até certo ponto pop daquela época. A princípio, o namoro era um escândalo, um alimento para tablóides consumirem em refeições especiais. Afinal não é todo mundo que aceita um relacionamento entre um cara de 30 com uma menina de 17. Mas os dois não estavam nem aí e com a aprovação dos pais de Mallu, tudo ficava relativamente mais fácil.

Talvez por influência dos novos amigos, dos livros que costumava ler (os autores beatniks e psicodélicos eram seus favoritos), Mallu, agora já com 21 anos, lançava seu quarto disco de estúdio – fortemente influenciado pelo psicodelismo de 67, além das drogas lisérgicas, comumente utilizadas nesse mesmo período.  Mas em 2014, poucas eram as bandas que ainda apostavam nessa sonoridade e era justamente isso que fazia com que o disco de Mallu soasse tão diferente e original. Nessa época a sonoridade anos 80, com seus sintetizadores e suas danças esquizofrênicas abraçavam o mundo e uma banda que ainda utilizasse equipamentos valvulados em climas psicodélicos, era vista com certo preconceito, cheirando a mofo.

Saltemos um pouco mais no tempo para falar do ano que passou. 2020 foi um ano e tanto: o enterro da Madonna, os primeiros contatos com outros planetas, enfim a cura da Aids. Para Mallu então, nem se fala. Após mais de 10 anos de um casamento feliz (se é que isso seja mesmo possível), ela se separa de Marcelo Camelo. Aos 27, Mallu tem talvez seu maior sofrimento na vida, uma mistura de sentimentos que culminam eu seu maior disco até então: “Lost Tracks And Broken Bicycles” – 15 faixas que versam sobre o sofrimento e a dor causada pela ausência.

Agora nos resta esperar por novos trabalhos dessa pequena grande cantora que a cada ano se reinventa, indo em busca da sua própria essência. Uma essência tão jovem e pura que é capaz de despertar a alegria até em marmanjos quarentões, como é o caso desse blogueiro aqui. Em tempo, aproveito a oportunidade para dizer que meu livro “Conhecendo os Vizinhos: Crônicas de Um Viajante Errante” (293 páginas) continua procurando uma editora para sua publicação.

Abril de 2021

7 comentários sobre “A Boa e “Velha” Mallu

    1. Com certeza o fotógrafo quis dizer algo com isso. Talvez a escada represente o tal sucesso (ou fracasso) comercial, algo que Mallu parece se importar pouco (ou pelo menos é isso que seus fãs preferem pensar). Mas enfim, isso nunca iremos saber.

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