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Sonhos e Devaneios para 2020

pace sonhos 2020

A placa da imobiliária responsável por uma série de malandragens no passado, mas o outro lado da moeda, no caso a venda, parece ser mais promissor, enfim, o fato dessa placa estar agora do meu lado me lembra que é hora desse “boy” aqui se mexer um pouco. Após os pequenos grandes sonhos produzidos em terras hermanas em um saboroso verão ao lado do parceiro de viagens, o sempre citado, Jorge Caldabranca, era a vez de começar a colocar os planos em prática, ou ao menos, quitar todas as pendências burocráticas que novamente habitam e assustam meu dia-a-dia. Nas horas vagas, reler o grande Fante é sempre um prazer e outra identificação, apesar de Caldabranca insistir que se ele fosse publicado hoje em dia, ninguém o leria. Talvez isso até esteja certo, são tempos estranhos e tudo mais, mas isso não faz dele um escritor menor, seu talento ficou pra história e ainda serve para jovens escritores se sentirem menos solitários em suas loucuras. E até que enfim tenho sedas de verdade para enrolar meus tabacos, já estava cansado daquelas francesas bem vagabundas, com pólvora e sem goma qualquer. Fui obrigado a comprá-las, pois não queria pagar mais de onze reais em 50 míseras folhas. E no Uruguai era assim: cigarro, tabaco, seda, cerveja e comidas em geral; tudo era caro demais, exceto alguns queijos, vinhos, alfajores e empanadas, dependendo do tamanho delas. Vivi a base dessas empanadas, pizzas de mercado, e das massas que improvisava na cozinha do Caldabranca. De sobremesa, um alfajor. O vinho, quase sempre foi companheiro dessas ocasiões, exceto nas primeiras duas semanas em que a cerveja foi o ator principal, graças aos diretores Mr. Pink e Dr. Robert. Experimentamos em torno de 50 marcas de cerveja, normalmente importadas, já que o valor de muitas delas estavam na faixa das nacionais. Me lembrei da coleção de latinhas de cerveja que meu irmão tinha quando criança, e como era interessante a comunhão com ele e meu pai, que comprava as latinhas e de certo modo, nos ensinava a degustar o álcool desde cedo, evitando que ambos virassem alcoólatras na fase adulta. Hoje meu irmão é abstêmio por opção e eu costumo beber, mas moderadamente e sem essas despersonificações típicas dos tomadores de porres. Tenho alguns amigos assim e entendo que pra eles, a bebida é sim um problema. Sou amante do vinho e ocasionalmente de alguma cerveja bem gelada. Acabei comprando um whisky no Chuí porque estava bem barato e também curto degustar um bom whisky em épocas esparsas que tive pela vida. Bebidas à parte, esse tempo longe dessa capital linda, mas desastrosa, em um local onde ninguém te conhece, exceto o velho parceiro mencionado, esse precioso tempo foi fundamental para reorganizar os pensamentos, reordenando as gavetas de uma mente que me faz recordar das rodoviárias mais caóticas que já estive. Talvez as maiores criações humanas se deram através do ócio, e às vezes é preciso largar tudo para poder construir o cenário propício para tal atividade. Salvo alguns momentos onde produzimos vídeos, o restante do tempo estávamos caminhando, indo pra praia, entrando no mar, olhando pro nada, esse nada que pode vir em forma de um oceano e de um céu azul sem nuvens. Ao lado do Jorge, eu passava boa parte do tempo em silêncio, escutando sua verborragia e seus empolgados devaneios. Boa parte das ideias e desses sonhos falados aqui vieram nesses instantes, mas isso pouco importa agora, o fato é que eles se tornaram reais e para isso, preciso me mexer. Sair de certas zonas de conforto também ajuda, e essa certamente será outra meta para os próximos dias.

Curitiba parece estacionada na imagem de algum cartão postal comprado às pressas em algum aeroporto reformado recentemente. Costumo dizer que levei trinta anos para me apaixonar por essa cidade, mas já se passaram quase dez anos desde que falei isso, e como qualquer paixão, um dia ela desaparece. É justamente nesse momento que você percebe que precisa vazar e que se continuar por esses cantos, todos os encantos desaparecerão, restando apenas aqueles bons momentos ao lado dos personagens que você se acostumou a encontrar, na cidade onde nasceu. Mas tenho certeza que essas figuras raras continuarão por aqui, e mais cedo ou mais tarde, voltarei a reencontrá-las. Tenho uma teoria que diz que a maioria das pessoas não nasce onde deveria ter nascido, e por isso, é preciso encontrar seu lugar no mundo, para não morrer amargo e arrependido. Meu irmão encontrou seu porto seguro nos Estados Unidos, e eu, bem, eu andei vagando por alguns países sul americanos, mas sinto que ainda preciso encontrar esse porto, um porto suave e mais leve, certamente distante dessa capital paranaense, onde não possuo raízes, exceto um pai mineiro que insiste em ficar por aqui e independente de onde eu estiver, ele continuará sendo o grande sábio que sempre foi.

Um horizonte possível, onde teria muitos parentes próximos, seria Salvador. Ainda não consigo imaginar como seria viver lá, mas carrego boas lembranças desse lugar, onde a “brisa” de Paquito diminui a sensação de calor, e o humor daquele povo me faz recuperar a esperança no ser humano. Enquanto no sul somos presenteados com infra estrutura e todas essas coisas que envolvem dinheiro, no nordeste o caos parece prosperar, mas é lá onde vejo um maior desenvolvimento humano, e é justamente nisso que estou interessado. Passei um tempo no Uruguai e gostei de lá, apesar de achar tudo caro. Mas quem sabe eu consiga a proeza de morar na Bahia durante o inverno e no Uruguai, durante o verão. A única certeza que tenho é que aqui em Curitiba não dá mais. Só posso desejar que essa cidade melhore, especialmente com a chegada de tantos forasteiros legais. “O passado é uma roupa não nos serve mais”, por isso preciso, mais do que nunca, encontrar minhas novas camisetas floridas e assim, me sentir um pouco mais… Feliz!

 

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Em tempo: Gostaria de prestar minhas condolências a família do jogador da NBA Kobe Bryant. Nunca mencionei nos meus textos essa paixão que ainda tenho pelo basquete e fiquei realmente triste com essa notícia. R. I. P.

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